quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Somente hoje...

...quero o sabor único da maçã.
Hoje quero ouvir aquelas músicas antigas, que costumava ouvir na juventude.
Hoje quero o sabor da melancolia que se esconde em cada lembrança.
Hoje quero recordar o sabor dos lábios que já beijei, dos vinhos que já provei,
dos lençóis que já desfiz dos risos que já sorri.
Hoje quero degustar com sabedoria o fel que me amargou, as noites que não dormi,
o céu que não contemplei as lágrimas que verti.
Hoje quero cantar baixinho aquela música que compus com versos que não rimei e gritar as frases que não citei.
Hoje quero abrir a janela e contemplar a noite sem estrelas com a certeza que estão ali, escondidas pelas tempestuosas nuvens que não me amedrontam mais.

Hoje quero dizer adeus sem magoar meu coração e me despedir de tudo que me fez
nublar os olhos.
Hoje quero rasgar aquelas fotografias que me torturavam a lembrança e me desapegar.
Hoje quero abrir um vinho, trocar minha canção favorita e brindar sozinho.
Hoje quero me bastar, despojar das muletas de sentimentos e crer que para ser feliz
não preciso do passado.
Hoje quero voar com as asas construídas com cada palavra de carinho que meus amigos
e afetos me disseram.
Hoje quero amar e ser amado com a mesma intensidade. Não admito mais meios amores
pois não ofereço metade do meu.
Hoje quero ler um livro, ver um filme, me sentar à beira de um lago e me deitar na grama e fixar o olhar num ponto qualquer do infinito.
Hoje quero o cheiro do capim gordura e da terra, molhados.
Hoje quero o calor do verão que me faz suar e o frio do inverno que congela meus ossos.
Hoje quero saltar de base jump do prédio mais alto e planar sobre as cabeças alheias
que vagam inconscientes de si lá embaixo.
Hoje quero me olhar no espelho e tirar uma foto do meu semblante, para me lembrar
desse dia, quando ele acabar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Na pizzaria...

...era novembro, com toda a chuva característica do final de ano. O dia começara nublado, cinzento, chuva fina e constante e da mesma maneira estava terminando. Ele saiu para comer algo após um cansativo dia de trabalho. A chuva fina não atrapalharia sua caminhada por cerca de três quadras até uma pizzaria próxima de sua casa. O asfalto molhado refletia as luzes à sua volta enquanto a chuva fina resvalava em seu sobretudo. A brisa fria e suave trazia os aromas de relva molhada, ar puro e refrescante. Alguns trovões esparsos e relâmpagos fugazes que traçavam desenhos no céu.

   Por pouco não encontrou uma mesa vaga, pois a chuva daquela noite pareceu ter enviado convites a todos para que saíssem de casa e se encontrassem naquele lugar. Ele aguardou até que alguma messa ficasse vaga. Enquanto isso foi convidado a se dirigir até o balcão e degustar um vinho acompanhado de torradas com alho tostadas na manteiga. Ainda saboreava o primeiro gole quando a viu chegar... cabelos castanho claro, ondulados, um pouco abaixo dos ombros, sobrancelhas grossas, desenhadas um pouco inclinadas para cima o que lhe conferia um ar enigmático e misterioso. Ela vestia um vestido preto, pouco acima dos joelhos, justo, com detalhes de renda no decote e outros detalhes em vemelho, um colar e brincos que pareciam bronze, mais despojados, sombra suave de cor laranja sobre as pálpebras e batom vermelho claro aparentando 1.70m de estatura, um pouco mais alta devido aos saltos altos.

   Não havia sequer um exemplar do sexo masculino que não a notasse, mesmo aqueles mais discretos que a devoravam pelos cantos dos olhos. Aquele caminhar seguro e altivo, com um rebolado sutil e atraente. Como não haviam mesas disponíveis ela foi convidada a aguardar no bar, assim como ele, que não conseguiu desgrudar os olhos daquela mulher que o hipnotizava cada vez mais à medida que se aproximava.

   Ele a cumprimentou com o olhar e acenou levemente com a cabeça, cedendo um espaço justamente ao seu lado, para que ela se acomodasse junto ao balcão. Ela sorriu de volta e se aproximou, parando ao seu lado, quando o cumprimentou. Naquele instante ele pôde deliciar-se com seu perfume que instalou-se ao seu redor como um bálsamo dos deuses, certamente misturado àquela pele alva e de aparência macia e sedosa. Ele tomou sua mão, cumprimentou-a levando sua mão aos lábios ao mesmo tempo que se inclinava um pouco para beijar sua mão, segurando suavemente seus dedos longilíneos de unhas coloridas e tez bem cuidada certamente com cremes hidratantes, pois a maciez era inconfundível.

   Como não havia mais nenhuma cadeira ali naquele balcão, ele prontamente levantou-se para que ela se acomodasse e sem perda de tempo chamou o garçom e ofereceu-lhe uma taça de vinho tinto seco. Apresentaram-se formalmente e conversaram animadamente. Ela era extremamente agradável, bem humorada, inteligente, de bem com a vida e como se não bastassem todas essas qualidades, muito linda. Logo vagou a primeira mesa e ele a convidou para sentar-se com ele, caso ela não estivesse esperando por alguém. Ela disse que estava em um namoro que mais parecia final de namoro, ainda em fase de decisões que poderiam levar ao final e rompimento do mesmo. Ele animou-se de certa forma, pois uma luz ao final do túnel é uma luz que existe e ele tentaria alcançá-la, pois há tempos não conhecia alguém que realmente lhe encantasse tanto, à primeira vista, como aquela musa que estava ali diante de si.

   Contaram suas histórias de vida, conheceram-se um pouco mais e quanto mais a conversa adiantava, mais encantado ele ficava. Entraria ou não nessa disputa? ficaria presente o tempo todo em seus dias lhe dando a atenção que ela merece e ele também desejaria para si todos os dias? Ele não sabia ao certo qual atitude tomar, apenas tinha a certeza de que estaria ao lado dela lhe dando apoio nessa fase difícil de decisões. Não importa qual decisão ela tome, obviamente ele torcia para que ela ficasse solteira e então ele teria caminho livre para tentar conquistá-la, mas se contrário fosse ela teria seu carinho e amizade de qualquer maneira (mas esse pensamento ele logo tratou de elinar de seu pensamento). Ele a queria para si, como sua namorada. Definitivamente.

   A noite avançou e após a pizza, ele a convidou para sairem para dançar ao final da semana. Mas isso ainda está por vir... por enquanto ela povoa e domina seus pensamentos noite e dia. E enquanto seu coração aguarda uma vaga para preencher o coração daquela musa ele não a deixará esquecê-lo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quando felicidade escapa por entre os dedos...

...a frase ficou por aí, interrompida, informalmente até.

   Se não foram suficientes as vezes que ele a encontrou pessoalmente, olhou-a nos olhos, deu-lhe a oportunidade de desvendar e descobri-la nos os seus, então ele não sabia mais o que fazer ou como agir. Talvez porque não ocorreu aquela famosa química que acontece quando duas pessoas mutuamente atraídas se aproximam.

   Ela nunca encontrava tempo para vê-lo ou qualquer outro compromisso de última hora era suficiente para que ela adiasse ou desmarcasse. Ainda assim ele aguardava pacientemente por uma oportunidade de estreitá-la nos braços e fazê-la sentir-se segura quanto às suas intenções mesmo quando a via em fotos publicadas nas redes sociais em alguma confraternização com amigos, pois dava a entender que a escassez de tempo só valia para ele. Em cada evento importante em sua vida ele sempre esperava ansioso por vê-la comparecer... em vão. Nem de surpresa ela aparecia para alegrar seu coração. Ela não se importava. Não era importante para ela a felicidade dele. Seus compromissos eram muito mais importantes.

   Ela se sentia insegura quanto ao futuro, tinha medo de se entregar a um novo amor e sofrer, magoar-se, enfim. Relacionamentos passados não deveriam compor o panorama do atual, pois são indivíduos distintos, com todo um universo pessoal completamente diferente. Seria como assumir que o dia de amanhã será tão bom ou ruim quanto o de ontem. Se essa for a premissa de seus pensamentos, ela ficará sozinha pelo resto da vida tecendo comparações acerca do futuro, perdendo oportunidades verdadeiras de ser feliz junto a um grande amor. 

   Somente podemos contemplar o pôr do sol se estivermos dispostos a voltar nossos olhos para o exterior em direção à linha do horizonte onde o sol se põe através, ao menos, de uma janela. 

   Ela o rotulou como um qualquer quando lhe disse que não tinha o costume de "levar homens para minha casa" no dia que ele sugeriu assistirem a um filme, apenas pelo prazer de sua companhia e aproveitarem algum tempo juntos, preferindo ir a um local público, numa demonstração de total falta de confiança em seu caráter e integridade. O veneno contido nesse dardo doeu.

   Ele esperou que esses surtos infantis desaparecessem caso ela refletisse, mas como resposta só obteve o silêncio e uma desistência muda numa saída "à francesa" que o obrigou a essa interpretação.

   A vida segue adiante e não nos espera. Ela conhecerá outras pessoas e talvez alguma delas lhe inspire confiança suficiente para que ela abandone a síndrome de "bola de cristal" e não queira adivinhar ou viver o futuro, pois a vida acontece no tempo presente. As oportunidades de ser feliz não podem ser adiadas nem antecipadas. O momento é agora pois o futuro depende do hoje e o passado serve apenas como referência para evitarmos situações recorrentes.

   Quem vive no medo de ser feliz, perde as chances de sê-lo.

   Permita-se.