terça-feira, 30 de julho de 2013

Naquela noite...

     O relógio preguiçoso marcava 18:00 quando ela, apressada, desligou seu computador, ajeitou os papéis sobre a mesa, abriu a gaveta, guardou as correspondências importantes, abriu a bolsa, tirou um estojo com um espelho, um batom vermelho, olhou-se, retocou o batom, ajeitou os cabelos, levantou-se e foi embora. Naquele dia decidira ir caminhando de volta para casa, uma vez que morava bem próximo ao seu local de trabalho. Era mulher bem-sucedida profissionalmente, excelente formação acadêmica, independente. Caminhava com elegância no patamar de suas sandálias de salto que combinavam com harmonia com sua bolsa. Não gostava de usar muitas jóias, apenas dois anéis e uma pulseira que realçavam suas mãos finas, graciosas e chamavam a atenção para suas unhas de esmalte brilhante e impecável.
     Observava, durante o trajeto, casais de mãos dadas, abraçados, trocando beijos e carícias. Ela esboçou um sorriso e acelerou o passo em direção à sua morada. Cumprimentou o porteiro do prédio, avançou rapidamente para o elevador, onde virou-se de perfil e olhou-se no espelho uma vez mais. Abriu a porta, suspirou profundamente, entrou e fechou a porta à sua retaguarda. Colocou a bolsa e as chaves sobre um aparador que ficava bem ali no hall de entrada. Finalmente estava em casa. Não, ninguém a esperava, sua alegria ao chegar em casa era justamente contrária ás suas expectativas pois morava sozinha e não tinha namorado, noivo, marido, companheiro, o que for. Sua alegria era justamente por chegar em casa e descansar o coração e os olhos das cenas felizes protagonizadas pelos casais transeuntes. Ela não tinha aquilo. 
     Era um apartamento espaçoso, confortável, de paredes claras, cortinas nas janelas, sofás macios, almofadas espalhadas sobre o mesmo, tapetes macios e impecavelmente limpos. Nas paredes, obras do Pernambucano Romero Brito, tentava quebrar a seriedade e a monotonia pigmentar que imperava em seus móveis. Sobre a estante da TV, um retrato seu, sorridente, alegre, feliz, quando tinha apenas 19 anos e sonhava encontrar grande amor, casar-se, ter filhos e que pudessem viver felizes. Mas isso é outra história. Foi até o bar, preparou uma bebida, colocou uma seleção de músicas (sempre a mesma) que costumava ouvir diariamente (a primeira era sempre "Estranha Loucura" de Alcione), tirou as sandálias, sentou-se no sofá, olhou pela vidraça panorâmica da sala de estar, por onde enxergava a noite abraçando a paisagem e pintando de vermelho o horizonte. Mais uma noite.
     Ela não tinha muitos amigos. Os poucos que tentara cultivar aproximavam-se por interesse ou outro motivo qualquer, mas não amizade. Ela no entanto, não pode culpá-los pois sempre foi dedicada ao trabalho e aos estudos, não se importando muito em estabelecer laços de amizades duradouras pois nunca tinha tempo para isso. Furtava-se de convites para ir ao cinema, teatro, passeios, viagens, até o dia em que cansados de convidá-la, foram deixando de fazê-lo. Evidentemente o mesmo acontecia com seus namorados ou pretendentes. Ela não sabia dividir adequadamente seu tempo. Fazia-se esperar. Tinha medo de que suas manias e hábitos fossem incompatíveis com quem quer que viesse a conhecer e estabelecer um relacionamento. Mas seria somente um namoro, não um casamento, tentava ponderar consigo mesma. 
     Seu coração assemelhava-se a um mosaico modernista, brincando em uma montanha russa. Tão retalhado, recortado, sofrendo altos e baixos, perdas e danos, desilusões e mágoas. A música que tocava, ecoava em sua'lma no refrão que mais parecia uma estrofe de sua vida escrita por si mesma "...eu acho que paguei um preço por te amar demais, enquanto pra você foi tanto fez ou tanto faz...". Era isso mesmo, indignava-se toda vez que ouvia essa música. Ela se entregava de corpo e alma enquanto "ele" se esgueirava pelas linhas divisórias do relacionamento, ultrapassando fronteiras aceitáveis e construíndo aquele mosaico no qual seu coração se transformara. Por que a entrega tinha que ser unilateral? seria da natureza masculina ferir, magoar, trair, atirar pela janela toda a felicidade que ela oferecia em troca de um amor honesto e cúmplice?. Era assim que ela, hoje, enxergava os homens que se aproximavam dela, em tentativas inglórias de conquistar aquele coração que mal refratava de maneira translúcida seus amedrontados sentimentos. Ela queria, mas tinha medo. Tinha medo de sofrer novamente, mas esquecia-se de que é a poda da árvore que lhe revitaliza após a mutilação de seus galhos. Não há ninguém igual em todo o mundo, cada ser é um universo circunscrito  em si só, portanto seu grande amor estaria ali, no meio dessa multidão de rostos desconhecidos, aguardando sem saber, a oportunidade de encontrá-la, quem sabe ela já o encontrara, e que pudessem desfrutar de inúmeros momentos felizes. Ela, madura e inteligente, bem sabe que felicidade é um conjunto de momentos felizes, que superam em número e qualidade, os momentos desagradáveis, mas quando esses momentos se tornam raros em um relacionamento, o custo do mesmo é pago com lágrimas, solidão e desesperança, um preço muito alto a se pagar, desconsiderando a si mesma inclusive. Ele a magoara das mais diversas maneiras possíveis, fizera-na sentir-se diminuída como mulher, pouco atraente como fêmea, incompetente como profissional, feia como jamais havia sido, solitária como jamais sonhara ser. Como poderia uma pessoa ter tamanho poder sobre outra ao ponto de transformá-la no que ela jamais foi? De arrancá-la de dentro de si mesma, de sua dignidade e autoconfiança para despojá-la numa persona que jamais lhe pertencera?. Uma lágrima rolara naquele rosto de contornos angulares, delgado, de feições firmes sem no entanto perder a silhueta angelical e peculiar que ora se escondia sob os longos e lisos fios negros que se atiravam até a linha de cintura e em sua franja perfeita, longa e de contorno até o início das têmporas. Se existia uma linda mulher, ela estava ali, sentada, na penumbra de sua sala, sufocada pela noite que já se estendia, secando os olhos, respirando com coriza, sorriso mesclado com um soluço, mentindo a si mesma que tudo estava bem, ao passo que deveria levantar-se, permitir-se viver, cair e levantar-se, pois a vida lhe ensinava todos os dias que recomeçar não era problema e que jamais estariamos caminhando se em nossa pré-infância deixássemos que os tombos que nos dobravam os joelhos nos tirassem o prazer de sorrir e correr para os braços maternos, nem tampouco de esconder-se sob desculpas de que já não era mais tão jovem, pois a juventude está na alma e nunca esteve na pele. Ela seria linda e maravilhosa para alguém... sempre, e vice-versa, não interessava a idade. 
    Mas naquela noite, faltou-lhe coragem de sair de casa sozinha, de enfrentar seus fantasmas, de presentear-se com a oportunidade de responder a um olhar mais atento daquela pessoa que ainda anônimo a observava com atenção e interesse. Naquela noite, faltou-lhe a coragem para ser quem ela realmente era e ter a felicidade que ela realmente merecia. Naquela noite faltou-lhe largar o copo, desligar a TV, vestir-se para a noite que ocultava os segredos dos casais. 
      Naquela noite, ela não retocou seu batom. 

sábado, 27 de julho de 2013

Um dia...


(para ouvir enquanto lê) ( http://www.youtube.com/watch?v=i1Zv5N2M6ns ) 
    Ela acordou numa manhã de domingo após mais uma noite dormindo solitária. Sozinha não, solitária, volto a repetir. Acordar é uma força de expressão, pois ela passara a noite acordada, olhando para o teto, para a janela, para a porta. Ao seu lado ele dormia desde as 21:00 da noite anterior, de costas para ela desde que deitou-se embrulhado em um lençol, que tão enrolado estava em seu corpo, não poderia jamais dizer que era um lençol de casal, mas sim de solteiro, haja vista que somente ele usufruiu dele. Onde ficou a parte prática de suas promessas de dormir de conchinha todas as noites?. Tantas promessas ficaram no pretérito... aliás, esse é o tempo verbal de todas as juras que ele fez. Havia um antes e depois tão intenso em sua vida que ela já não conseguia mais distinguir os sonhos das fantasias.
     Antes, ela recebia flores quase todas as semanas, hoje recebe críticas todos os dias.
     Antes, ela ganhava beijos todos os dias antes dele sair para o trabalho, hoje ele apenas pergunta sobre o cardápio do almoço.
     Antes, ela saía para dançar com ele todos os finais de semana, hoje ela valsa com uma almofada, sozinha, na sala de estar.
     Impossível enumerar tantos depressivos "antes" e "depois", recorda ela, com os olhos cheios de lágrimas. O que mudara nela? Sim, só pode ter sido nela, imaginava. Não faltara amor de sua parte nem carinho e muito menos dedicação, pois sempre foi uma companheira presente e leal aos seus compromissos. Ela tenta encontrar uma resposta plausível em filosofias, livros de autoajuda, conversa com suas amigas e no entanto percebe que muitas delas se queixam das mesmas coisas. Era uma transformação dos princípios do amor? ou apenas a vulgarização de um sentimento bastante diferente do que se rotula como amor nos dias atuais? Tantas questões vagavam em seu pensamento. Ela olhou à sua volta, contemplou um antigo retrato sobre o criado mudo que estava ali desde que se conheceram. O que realmente importa? O que realmente faz sentido? continuar ali, fisicamente presente e ignorada por completo?.
     Ela levantou-se, foi até o closet olhou-se no espelho de parede, ajeitou os cabelos. Ela era uma mulher muito bonita, culta, inteligente, independente, autossuficiente, romântica, belíssima à sua maturidade. Afinal, não importa se ela é magrinha, gordinha, alta, baixa, que há de errado nisso? Há tantas divas do passado que em sua maturidade ficaram muito feias ao passo que aquela vizinha anônima, feia em sua juventude,  tornara-se uma linda mulher. Os anos esculpem de forma diferente cada pessoa. Um relacionamento embasado na aparência é um relacionamento que tende ao fracasso, se não observados os aspectos que realmente importam em um romance.
     Ela não era nenhuma Miss Universo, mas também nem em sonho era aquela mocinha linda e cheia de curvas que no entanto fazia estremecer seu  companheiro quando resolvia abrir a boca para falar ou o envergonhava num post de redes sociais quando, no mínimo, trocava o "ç"  por  "ss". Sem dúvida há mulheres lindas, sinuosas e muito cultas, mas não foi isso que ela quis evidenciar em seus apontamentos.       
     Não importa como é seu corpo, se você se admira. Ela se admirava. Tinha consciência de quem era, como era, e isso era o suficiente. Ela o amou apesar de seus defeitos que todo mundo possui, principalmente ele. O primeiro contato de um casal, sem dúvida é o visual, mas não deveria ser o único, pois beleza não se restringe ao aspecto plástico, mas, muito mais, na condução diária de um relacionamento. 
      Então era isso? tudo pelo que ela lutou a vida inteira, era somente isso? viver segundo as vontade dele? passear os passeios dele? viver a vida dele? ela tem a dela. Ela quer sair para dançar, ir ao cinema, viajar, passear de mãos dadas, viver aventuras ao lado dele, sentar-se no tapete da sala, com pipoca e guaraná ao colo, ver um filme, sorrir juntos. Ela quer dormir de conchinha todas as noites, ouvir seu coração pulsar quando deitar-se sobre seu peito, sentir suas mãos afagando seus cabelos e roçando sua pele nua suavemente para que ela adormeça. Ela quer ser acordada com um beijo e um sorriso, abraçada sob os primeiros raios de sol, quer seu café-da-manhã na cama algumas vezes, quer sentir-se cuidada, amada, desejada. Não era pedir muito, seria? são coisas simples, que não custam dinheiro algum, mas sim dedicação, vontade e cumplicidade. 
     Sim, ela seria capaz de recomeçar. Nunca é tarde para recomeçar. Não há príncipe encantado algum lá fora, mas certamente há muitos homens de verdade que enxergam a verdadeira beleza que há em uma mulher, sem se importar com algumas imperfeições na aparência, alguns quilinhos a mais ou a menos, mas que olham primeiro em seus olhos, antes de admirar seu derrière. 
    Ela espreguiçou-se, retocou sua maquiagem, nos lábios seu inseparável batom carmim realçado com seu clip-on, cabelos escovados, alongou seus cílios, conferiu o brilho nos olhos ainda um pouco inchados de chorar e soluçar na madrugada. Ele ainda dormia, enrolado em seu lençol, ainda virado para a parede, de costas para o lugar na cama onde ela dormira, ou melhor, chorara a noite toda. Vestiu seu melhor vestido, calçou suas sandálias, seus anéis, brincos, colar, tirou a aliança da mão esquerda e deixou-a sobre a pia do banheiro.
  Deixou também, na pia do banheiro, suas frustrações, seus desejos não realizados, o amor não correspondido, as promessas não cumpridas, as juras de amor que não foram verdadeiras.  Na mala, que aprontara durante a noite, ela guardou apenas algumas roupas, seus sonhos, as lingeries há anos sem uso, suas boas lembranças e muitos desejos a realizar. 
   Silenciosamente, deixou as chaves de casa sobre a mesa de jantar, fechou a porta às suas costas e foi ser feliz.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Há 32 anos...


     Ele abriu a gaveta de sua cômoda e tirou a folha de papel cuidadosamente guardada, propositalmente,  dentro do livro "Cem anos de solidão" de Gabriel García Márquez. A página amarelada pelo tempo, estivera ali por 32 anos, durante toda sua vida, desde que fora escrita. Com caligrafia já transformada, pois ele era muito jovem quando a escreveu, despontavam rimas não muito bem formadas, mas adequadas à sua imaturidade e juventude.  Ali havia um poema e uma tímida declaração de amor que ele escrevera. 
     Era junho de 1981, noite de festividades de São João. A festa seria na quadra esportiva do colégio onde cursavam o colegial. Bandeirolas coloridas, fogueira artificial, barraquinhas de guloseimas típicas da festividade, música, pessoas sorrindo. Vários grupos já haviam se apresentado nos concursos de danças características e ele preparava-se para ir embora quando na saída, ele a encontrou. Ela acabara de chegar. Seu coração bateu mais forte, descompassado, como se quisesse escapar pela boca e sair correndo de encontro ao dela. Ela estava linda, de penteado e cabelo preso, vestindo calça de tecido e sapatos pretos, blusa branca com detalhes de renda na frente, de mangas compridas, exibindo um batom vermelho naqueles lábios perfeitos, sombra nos olhos castanhos brilhantes e aquele sorriso... ah! aquele sorriso maravilhoso que fora um dos elementos que o fizeram apaixonar-se por aquela menina de voz doce e que o apelidara carinhosamente com o diminutivo de seu nome. Ah! aquele sorriso lhe tomava horas de sono, roubava-lhe o sossego da alma que ansiava pelo anoitecer apenas para voar por onde voam as almas e sonhar com aquele rosto lindo com uma marquinha no queixo, uma pinta, que o tornava ainda mais charmoso.
    Ah! como ele amava visitá-la em casa, apenas para ficar pertinho, para sentir suas mãos pousando sobre as suas, sobre seu braço, num gesto que ela repetia com muito carinho. Como era bom passar aquelas tardes ao seu lado. Ele logo se formaria no colegial e então a veria com menor frequência pois ele cursava o 3º ano e ela cursava o 2º. 
     Ao vê-la naquela festa junina, tão linda, tão deslumbrante, como ela sempre fora, e ainda é até hoje, ele resolveu munir-se de coragem e, muito tímido como de fato era, escreveu-lhe um poema de própria autoria e um bilhete no qual ele declarava seu grande amor. Seus planos eram visitá-la, conversar como sempre  faziam e nos acréscimos do segundo tempo, já despedindo-se para ir embora, entregá-lo para que ela pudesse ler a respeito de seus sentimentos. Mas isso não aconteceu.
     Como era de costume, ele chegou naquela tarde ensolarada, parou diante do portão e chamou-a. Ela saiu da casa vestindo um shortinho cor cinza e uma camiseta regatas com listras coloridas, cabelos presos e o característico sorriso lindo emoldurado naquele rostinho perfeito. Sentaram-se na varanda da casa, naquelas cadeiras de fios de plástico e conversaram normalmente como sempre fizeram. Ele mal conseguia respirar naquela tarde. Seu coração era uma locomotiva fumegante e a todo vapor, impulsionado pela ansiedade. Mas uma frase veio destruir suas esperanças, jogar por terra tudo que havia planejado, borrar com lágrimas surdas e contidas as palavras que na noite anterior ele transcrevera de seu coração para aquele papel em seu bolso, de onde jamais sairia. Na frase ela perguntara se ele havia visto um de seus amigos, e completou que ele a rondava e a pedira em namoro. O dia fez-se noite, a tarde fez-se pranto abafado no peito e engolido a seco para que ela não notasse a tristeza e o desespero em seus olhos. Não... não era hora de fraquejar. Sem outra alternativa, ele a felicitou e desejou-lhe felicidades pois o outro era um bom rapaz. Despediu-se e foi para casa, com o poema e a declaração em seu bolso (seu primeiro erro), com a cabeça girando a milhares de rotações por minuto. 
     Aquela quinta-feira arrastou-se melancolicamente, a sexta-feira assemelhava-se a um sepulcro e então no sábado ele decidiu procurar alguém para namorar. A primeira que fosse, que lhe desse oportunidade, ele namoraria (seu segundo erro). E assim o fez. Ele afastou-se o máximo que podia, daquela que era a dona de seu coração, pois não suportava olhá-la e não tê-la. Procurou ocupar seu tempo com a namoradinha que, vítima de suas atitudes desesperadas e imaturas de tentar curar uma paixão não correspondida com outra, sucumbira mais adiante às vésperas de seu casamento. Não, ele não poderia se casar sem amá-la. Seria doloroso mas tomou a decisão de romper o noivado. Mudou-se de cidade, estado, no dia seguinte ao rompimento de seu noivado, numa tentativa insana de manter-se o mais distante possível daquela que ele desejava tanto esperá-la no altar. Morou em vários lugares, vários estados, várias cidades, mas nunca deixou de amá-la (nem poderia). Soube em determinada época que ela havia se casado, pondo um derradeiro ponto final em todas as suas esperanças. Anos depois, ele retornou à sua cidade e foi visitá-la, na ocasião do nascimento de sua primogênita. Foi uma visita rápida, pois ele sentia-se completamente desconfortável ali, diante da mulher que ainda fazia o chão desaparecer sob seus pés. 
     Os anos se passaram, cada qual tomou rumos diferentes em suas vidas. Ele perdeu completamente o contato com seu grande amor. Percorreu o bairro onde ela morava, mas já haviam se passado anos e tudo estava muito diferente, não conseguindo enfim encontrar a casa onde ela morava. Foi até a casa onde na adolescência ela morou e perguntou aos moradores atuais se eles conheciam seu endereço, mas tudo em vão. Repentinamente, ele a reencontra e a alegria invade e inunda seu coração e sua alma. Ela em nada mudara, o tempo não teve efeito algum sobre aquele rostinho lindo. Ansioso para ouvir suas histórias e preencher as lacunas desses 32 anos ele a convida para tomarem um café juntos, insiste e a convida por diversas vezes, até resolver perguntar-lhe por que ela o evitava. Sua resposta o surpreendeu... muito. Ele então resolveu contar-lhe sobre o bilhete com que chegara e voltara em seu bolso, há três décadas. E atônito, descobre que ela havia lhe perguntado sobre o amigo, apenas para checar sua reação (terceiro erro), para descobrir se ele tinha algum interesse por ela (claro que ela sabia que sim, que ele a amava). 
     Foram erros fatais que mudou completamente o destino de ambos. Ela não precisava fazer aquele teste. Ele não deveria ter ido embora com a carta no bolso sem entregá-la. Quantas lagrimas foram derramadas por anos e quanta tristeza fez morada em seu coração por dois, apenas dois equívocos cometidos por ambos. Hoje poderiam e ele acredita que certamente estariam casados, felizes, realizados. Mas em lugar disso, restou a frustração de nunca terem possuído o que sempre lhes pertenceu de coração e de direito.
   Hoje ele ainda recorda a canção que ele ouviu por anos seguidos ( http://www.youtube.com/watch?v=oBUkS_iD7gw ) a lhe embalar e secar as lágrimas derramadas por aquela mulher maravilhosa que sempre foi sua, sem nunca ter sido.
     Mas nunca é tarde para ser feliz.

domingo, 14 de julho de 2013

Do outro lado da rua...


...aquele maldito despertador mal esperou amanhecer para tocar. Parece que despertadores adivinham quando o sol vai nascer e sabem também qual é o momento exato de interromperem aquele sono gostoso e profundo. Ele esticou o braço, desligou o despertador, virou-se lentamente, espreguiçou demoradamente, sentindo alongar cada músculo de seu tórax, costas e braços, piscou algumas vezes, ainda incrédulo de que o dia já amanhecera sendo que a impressão que ele tinha é que acabara de se deitar. Levantou-se preguiçosamente e foi até o banheiro. Abriu a torneira e deixou que a água fria em seu rosto colhesse o crédito de despertá-lo. Abriu o chuveiro e deixou que a água quente terminasse a árdua tarefa de despertá-lo. 
     Ele ainda se lembrava muito bem daquela rua, pacata, num bairro somente residencial, da casa cor de abóbora, do gramado que nunca chegou a ser um gramado, pois seu cão de estimação nunca deixava que prosperasse. A amoreira já não estava mais lá, havia sido cortada. Dali mesmo, da calçada, ele olhou a janela onde nos últimos dias em que morou ali, debruçava-se sobre o parapeito e ficava observando a quietude, o silêncio, ouvindo os pássaros noturnos, as folhas secas rolando no asfalto, sentindo o vento em seu rosto. A luz tênue e amarelada dos postes de iluminação daquela rua, concediam-lhe uma atmosfera melancólica. solitária. A solidão a dois gritava em seu peito. Nada era pior que ter alguém na vida e ao mesmo tempo sentir-se tão solitário. Ser romântico tem suas desvantagens quando é unilateral. Ele adorava sair para dançar, aliás, adorava levá-la para dançar. Senti-la em seus braços, principalmente quando ela aconchegava a cabeça e roçava o rosto em seu peito enquanto seus braços a estreitavam e apertavam-na contra si. Ele amava a sensação que sentia quando ela se perdia em seus olhos e ele percebia o quanto ela o amava. Mas isso foi no início, durou alguns quatro ou cinco anos. Depois desse período, em algum ponto de suas vidas eles se perderam, distanciaram, criaram abismos entre si. 
     O sempre nem sempre dura a vida toda, mas sim o tempo necessário que tem que durar. Ele lembrou-se do quadro pendurado na parede, que ele ajudou a começar. Lembrou-se de quando fizeram, juntos, aulas de pintura. Ela era um desastre para desenhar - sorriu ao lembrar-se disso - e mal conseguia fazer um círculo razoável. Sua noção de perspectiva era ainda pior, mas tudo isso a tornava mais linda e mais divertida e ele sorria sempre de suas inabilidades e procurava ajudá-la, às vezes até mesmo segurando em sua mão e fazendo o movimento na tela com o pincel para que ela aprendesse. Anteriormente haviam tentado tocar violão, mas ela também se sobressaía na arte do desafino. Por fim, a única musica que ela tentou aprender e ainda assim não conseguiu persiste até hoje em sua memória: "...são três machos e uma fêmea por sinal maria...". Impossível esquecer essa música - sorri - pois ela a repetia todos os dias o mesmo trecho, que nunca aprendeu. Como era divertido. Mas ela era extremamente inteligente, desprovida de dons artísticos é verdade, porém em sua profissão, não havia a quem se comparasse. 
     Ali na rua, parado, olhando aquela casa, ele perguntava a si próprio: por que? qual o motivo? por que as pessoas não valorizam esses detalhes pequenos, por que ela não valorizou tudo isso e muito mais detalhes simples e importantes que tinham em suas vidas? por que deixou-se distanciar tanto assim ao ponto de perder de vista o referencial daquele amor? A sofisticação do simples é encantadora, não é necessário muito  para ser feliz, basta enxergar a beleza em tantos pormenores para os quais, em nosso cotidiano, não valorizamos ou olhamos com desdém. 
     Agora, nessa rua, a essa hora da madrugada, ele já não está mais ali naquela janela, insone, pensativo, mas sim do lado de fora, onde ainda brilham na lembrança as lágrimas que ele derramou ao deixá-la. Se ele fechar os olhos, ainda será capaz de vê-lo voltando para o quarto, onde indiferentemente ela dormia, fechar a janela, cobri-la com aquele cobertor macio, felpudo, que ela adorava, deitar-se ao lado dela e esperar ainda por quase hora até que o sono viesse, geralmente ouvindo sua música (e única) favorita: http://www.youtube.com/watch?v=YuJbij0Vx20  . Do lado de fora, a vida seguia seu rumo e em muitos lugares, haviam milhares de rapazes como ele, passando pelas mesmas dores. E certamente haveriam milhares de mulheres como ela, deitadas, indiferentes, sem se importar com a pessoa amada ao seu lado.
     Mas isso passou, definitivamente sim. Bem... vai passar.

     Ele fechou o chuveiro, secou-se, penteou-se, perfumou-se, sorriu, suspirou profundamente e saiu.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Poliana, de flor em flor...

     O celular despertou antes das 6:00 da manhã. Poliana, como gostava de ser chamada, era atualmente um arquétipo vivo de uma caixinha de Pandora. Abriu os olhos lentamente, desligou o alarme do celular, espreguiçou lentamente, bocejou e olhou à sua volta. Por instantes aquele quarto lhe pareceu estranho, porém não de forma surpreendente, pois nos últimos dias, consecutivamente, acordara em quartos de casas diferentes. Virou-se na cama lentamente, olhou atentamente aquele homem deitado ao seu lado, tentou recordar-se das últimas noites em claro, sem no entanto confundir as pessoas. Sentou-se na cama, não se importando se o acordaria, pois algumas vezes ela não ia em seu carro para seus encontros, como era o caso daquele dia, no qual ele teria que levá-la até sua casa. Em outras vezes ela ia em seu próprio carro e ali mesmo no porta-luvas, deixava seus celulares no silencioso, para que não fosse incomodada em suas noitadas. Poliana levantou-se, foi até o banheiro, ainda completamente nua, enquanto seu amante ainda permanecia na cama.

     Olhou-se no espelho. Poliana, uma mulher madura com pouco mais de 40 anos, recém separada. Ela fez uma leitura rápida de seu reflexo no espelho. As marcas do tempo já estavam bastante visíveis em seu rosto, nos fios de cabelos brancos que insistiam em surgir entre os outros que foram pintados. Poliana estava bem acima do peso, considerando sua estatura, o que lhe conferia umas gordurinhas localizadas na barriga, nos braços, pernas, sob o queixo, tornando seu rosto muito mais arredondado do que realmente era. Celulites e estrias lhe incomodavam, seu corpo já não possuía mais aquelas linhas perfeitas e sinuosas da juventude, ou de alguns anos atrás, mas suas experiências eram fartas. Antes, Poliana escolhia. Tinha o poder de apontar o dedo na direção de qualquer exemplar do sexo masculino e arrastá-lo para seu mundo de prazeres. Hoje, a decisão não é somente dela, pois, na cidade em que Poliana vive, existem muito mais mulheres (em sua maioria lindas e de corpos maravilhosos) do que exemplares masculinos. Por vezes, Poliana acordava em um quarto de uma casa enorme com piscina, em outras,  num quarto de apartamento.

     Poliana deteve-se por alguns instantes, pensamento perdido em seu reflexo no espelho. Seus olhos nem mais a fitavam, eles estavam perdidos em suas lembranças. Procurou na pia sua escova dental, mas... que bobagem! ela não estava em sua casa. Seus apetrechos pessoais estavam em sua bolsa. Mais uma noite se passou. Suspiros, gemidos, prazeres. Ao menos seu corpo estava satisfeito. Faltava-lhe saciar a alma, o coração, mas esse seria um pouco mais complicado, haja vista que aquele que ocupou seu coração por muitos anos, havia desocupado seu lugar permanente, deixando apenas algumas vagas de aluguel. Poliana sentia saudade daquele que fora seu maior e grande amor. Como uma borboleta, vagava de flor em flor, mas o perfume único e delicioso da pele daquele que foi seu companheiro por anos, que ela ainda guardava na memória
e resgatava quando fechava seus olhos e se entregava às doces lembranças, ela sabia que não encontraria nunca mais, nem tampouco em nenhum travesseiro estranho que aconchegava sua cabeça ou num peito estranho que jamais encaixaria sua cabeça com tamanha perfeição. Poliana também sabia que aquelas mãos firmes que a seguravam pelo quadril, quando sua cama lhe servia de chão e aquela barba por fazer que lhe roçavam as costas
quando aqueles lábios, que ela tanto amava, percorria-lhe a pele deixando um rastro molhado e fazia balançar seu corpo como um terremoto que a despia de todo e qualquer resquício de pudor, já não dormia mais consigo no leito aconchegante de sua casa.

     Poliana, de flor em flor, espalhava seu pólen, mas nenhum prazer seria capaz de arrancar-lhe a saudade e a lembrança que exalava pelos poros de sua pele alva e macia. Com seu ex-companheiro ela não precisava esconder-se envolta naquela toalha estranha e dissimular as imperfeições de seu corpo pois ele a amava plena e exatamente como ela é, aliás, ele adorava observá-la nua. Poliana, de olhos ainda maquilados, lábios sem batom, dedos sem anéis, estava de volta à vida que ela mesma abandonara quando conheceu seu ex-companheiro. Poliana nunca foi feliz pousando de flor em flor, porém retomou. Poliana sabe que voltará àquele abismo imenso dentro de si, pois ela bem sabe que pousar de flor em flor não lhe trará felicidade alguma, mas, muito pelo contrário, a empurrará de volta à escuridão daquele cantinho cinzento e escuro de sua alma.
Poliana conhece bem suas escolhas, seus valores, seus defeitos e suas motivações. Foi decisão sua.

     Amor verdadeiro não bate à porta todos os dias. Raramente duas vezes. Três vezes nunca. Poliana teve sua chance. Mas seu zelo exacerbado por quem não merecia tal zelo, e agora ela vê isso na solidão de seus dias e suas noites, lhe mostra quem realmente esteve sempre ao seu lado, mas o depois não conta mais, o ontem já passou e o futuro não lhe reserva mais esse amor perdido. O presente... bem... o presente pode dar a Poliana uma flor por noite, mas até quando, se o tempo é cruel em deixar suas marcas, o coração é tirano ao recusar-se a despejar seu grande amor, seus pensamentos zombam de si ao tentar baní-lo dali e seu corpo tece insatisfeitas e insaciadas comparações.

     Poliana abre a ducha do chuveiro, tenta sorrir e mentir a si própria que está feliz, que é isso mesmo que tinha que acontecer, que tomou as decisões corretas e balança a cabeça como se quisesse afastar para bem longe o que em vão ela vai tentar esconder de si própria pelo resto da vida. Poliana veste-se e vai para o trabalho. Cabelos penteados, anéis nos dedos, batom na boca, cremes no rosto. Um novo dia, uma nova noite, quem sabe uma nova flor diferente a espera logo mais à noite?. Por fora, um sorriso nos lábios, por dentro, chagas abertas na alma. Lá vai Poliana.


    As decisões que tomamos na vida, sempre são motivadas pela auto-proteção ou para protegermos alguém ou alguma coisa em nosso convívio. Todas elas tem seu preço e suas consequências. Algumas, aquelas que envolvem abrir mão de coisas ou pessoas preciosas, são pagas com suor e lágrimas ou deixam um rombo de sentimentos difíceis de curar. Não são os atos que matam, Poliana, mas sim as lembranças de como poderia ter sido se não tivesse desistido tão cedo. Lá vai Poliana, que busca, em vão, compensar, de flor em flor, aquele que foi, e quer ela queira ou não, sempre será, seu grande amor.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

No hay más tiempo, no hay...


    Hoje quero ficar só. Sozinho comigo mesmo, com meus pensamentos, minhas alegrias, minhas tristezas, minhas vitórias, minhas derrotas. Hoje quero ouvir aquela música que há tempos não ouvia, sentir aquele perfume que ficou esquecido lá no fundo do armário, rever antigas fotografias, reler os textos que escrevi há anos, agora em suas páginas amareladas pelo tempo, sentir o cheiro de café no coador, fumaça de lenha na fogueira, doar as roupas que não uso mais, descartar as lembranças que não merecem ser lembradas, os sentimentos que não mais importam, olhar no fundo dos olhos dos meus medos.

     Hoje quero nos lábios a doçura do sorvete derretendo, gotas de tinta caindo na tela branca borrando o espaço de uma pintura barroca, me sentar na grama sob a chuva, abrir a boca e beber as gotas que puder captar, falar com a boca cheia, mas de palavras que não ultrapassavam minha garganta. 

      Hoje vou dormir mais tarde, abrir a janela e observar o luar, inspirar profundamente o ar frio da madrugada, sorrir para ninguém, contemplar o nada e o tudo na escuridão da madrugada. Hoje vou acenar e agradecer a quem fica, pedir perdão a quem magoei, jogar amarelinha nos quadradinhos da vida. Vou sair da vida à francesa como quem chegou sem querer e ficou sem merecer.


terça-feira, 2 de julho de 2013

As folhas de outono...

...atravessaram a rua caminhando lado a lado, ainda tímidos, passos desajeitados. A hora já avançara, pois conversaram demoradamente naquele coffee bar. Era uma tarde de outono e o vento frio varria as ruas e espalhava folhas secas pelo chão. O céu formava uma abóbada de tons vermelhos e alaranjados, riscado  por poucas nuvens, conferindo um dourado aconchegante e calmo em toda a paisagem que os cercavam. O bordo vermelho debruçava suas folhas secas nos bancos e jardins daquela praça que ostentava o gramado mais verde que ele conhecera. As chaminés fumegantes nas casas era indício de que as lareiras eram acesas e o inverno não tardaria a chegar. As pessoas passavam apressadas, dirigindo-se aos seus lares após um longo dia de trabalho. Ambos, entrentanto, pareciam ignorar tudo á sua volta. De sorriso pleno ele a fitava nos olhos enquanto conversavam. Sentaram-se na grama à beira do lago. Foi a primeira vez que ele chegou tão perto daquele "anjo" que tão descompassadamente fez acelerar seu coração. Ele sentiu seu ombro roçar e colar no ombro dela, seus rostos se aproximaram o suficiente para que ele pudesse sentir de perto, pela primeira vez, o perfume daquela pele que ele identificaria, doravante, de olhos vendados. Ele levou a mão até seu rosto, acariciando aquela pele alva e macia com as costas das mãos. Pela primeira vez seus dedos entrelaçaram aqueles cabelos de algodão que lhe caía aos ombros, lisos até o meio e cacheado nas pontas, eram castanhos claros de fios dourados que realçavam ainda mais sob aquele ocaso colorido. Sua pele alva adquirira um tom bronzeado e o reflexo do lago em seus olhos tornavam ainda mais brilhantes aquele reduto onde os seus se perdiam. Ele observou suas mãos, finas, unhas grandes e bem cuidadas, dedos longilíneos, que se uniram aos dele quando deslizou sua mão e a colocou sobre a dela. Quando seus dedos entrelaçaram  ele sentiu como se aquelas mãos abraçassem as suas. Ele deslizou suavemente sua mão pelo seu braço em direção ao ombro, demorou-se quando seus dedos pousaram sobre seu pescoço. Ele aproximou seu rosto quase ao ponto de roçar seu nariz no dela, quando ela cerrou os olhos, entreabriu os lábios e aquela boca de lábios macios esperou pelo primeiro beijo. Ele roçou seus lábios nos dela, mordiscou seu lábio inferior e entregou-se àquele beijo com sofreguidão quando ela retribuiu, demoradamente, sentindo a textura daquela boca de contornos perfeitos que ele possuía. Suas línguas dançaram tocando-se e alternando as bocas que não demonstravam a menor vontade se separarem. Ele contornou os lábios dela com os seus, beijando-os de um cantinho da boca ao outro ao passo que sua mão se emaranhava naqueles cabelos dourados e puxavam suavemente seu rosto em direção ao dele enquanto sua outra mão decorava a geografia daqueles braços e pele perfeita. Aquele beijo demoraria ainda toda uma eternidade naquele espaço de tempo. Era o começo de tudo, quando duas almas gêmeas se encontraram, se reconheceram e deram a si próprias a oportunidade de buscarem juntos os momentos felizes que a vida lhes proporcionaria desde que tivessem a sabedoria necessária para que cuidassem, como deve ser cuidado, daquele amor que nascera de um olhar mas que dependeria da lealdade, respeito, cuidado e cumplicidade para que sobrevivesse. O vento que anunciava o outono tornava-se mais forte, a brisa mais fria, os olhares mais apaixonados e a vida mais bela.