sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Anne

ouça enquanto lê:

https://www.youtube.com/watch?v=l_nqghgL3Ls

     Anne é uma jovem mulher de olhos penetrantes e brilho suave e juvenil, corpo atlético esculpido pela prática de esportes, academia e muito suor em seus treinos diários que chegavam a durar horas, cabelos curtos, voz com um timbre particular, daquelas que passamos horas e não nos cansamos de ouvir.
     Anne era muito bonita, inteligente, culta, doce, extremamente gentil, educada e certamente como todos, possuía defeitos, mas esses estavam muito bem ocultos pois não conseguiríamos enxergar nenhum na convivência diária.
     Mãe e esposa dedicada, Anne era uma tempestade arrebatadora, casada com uma pessoa com características opostas às suas. Todo inicio de relacionamento é perfeito, mesmo que os casais tenham personalidades (temos várias segundo Jung) antagônicas. Mas o tempo (sempre ele) veio mostrar que não é bem assim que deveria ser para que seja duradouro.
     Anne é o doce e indomável vento do outono que açoita e arrebata as folhas do Bordo, dourando a paisagem e desnudando as árvores de suas folhas secas. 
     Anne é o mar revolto em ondas que sobem com seus tentáculos na tentativa de tocar o céu e banhar as estrelas em infindáveis tempestades noturnas.
     Anne é o sol que doura a pele e aquece a alma de quem a cerca, bastando para isso estampar um sorriso em seu lindo rosto expondo a boca perfeita de lábios delgados e contornos sugestivos.
     Anne é o terremoto que sacode a terra onde correm os pés que caminharam por anos ao lado de seu companheiro, esperando que seu casamento fosse para sempre e aguardando a cada dia que todo seu carinho, amor e dedicação fosse (como deveria ser) completamente retribuído com a mesma verdade e intensidade com que dedicava o seu a ele. 
     Anne gosta de passear, viajar, correr livre pelos campos, acampar, saltar de pára-quedas, base jump, nadar, caminhar, pedalar, deitar-se na grama à beira de um lago e não pensar em nada, mas sentir que em nenhum desses momentos estaria sozinha, mas sim acompanhada daquele que escolhera exatamente para compartilhar tudo isso que a deixava feliz.
     Anne é MPB, mas principalmente era Rock n Roll de Satriani, Slash, Pearl Jam, Metallica e todas essas bandas cheias de energia que embalavam seus dias até o momento em que devorava seus livros (Anne adora ler) perdendo-se em histórias e mergulhando nas páginas das fantasias de Saint Exupéry ou na Psicanálise de Freud.
     Anne é mulher de unhas bem cuidadas, vermelho Rubi e batom rosa bebê e estatura suficiente para chamar a atenção (como se precisasse) quando desfila de salto alto com sua ginga que causa torciolos e discórdias entre os casais pelo simples fato de passar diante deles.
     Mas Anne não é feliz como deseja (e deveria) ser. 
     O tempo tem mostrado que seu casamento não durou o suficiente para que fossem "felizes para sempre" e a "solidão a dois" (como cantava Lobão) começa a incomodar como a pior de todas. As noites já não são mais à luz de velas, nem os jantares são preparados com o carinho que deveria. O cobertor e travesseiros já nem sempre são jogados ao chão e muito raramente as roupas ficam jogadas ao chão no trajeto da sala ao quarto de dormir, deixando rastros de pulseiras, colares e, nas taças, marcas de batom.
     Anne vive um casamento que há muito já deixou de sê-lo. Resta Anne descobrir (e descobrirá) que a amizade entre eles continuará, mas a jornada do dueto "marido-mulher" já se encerrou e que ela deveria encontrar uma alma com a mesma sintonia que a dela, com os mesmos gostos e que venha polir sua vida de cristal como deve ser polida, agregando brilho e amor à sua. 
     Anne descobrirá que não é fácil romper um relacionamento que durou anos mas que chegou ao fim e quando algo termina, seja em qualquer sentido, acabou. Restam fragmentos bons, claro, as lembranças que ficarão, mas que não a sufoquem, como frustração, de como deveria ser.
     Anne entenderá que conta com família, amigos e outras pessoas que ajudarão a superar essa fase difícil e complicada mas necessária quando a rotina, o tempo e a falta de valor do companheiro sepultaram o que poderia ter florescido.
     Anne é uma mulher independente, autossuficiente e competente materialmente falando. Não depende hoje e não dependerá amanhã de ninguém para seu sustento. Anne saberá educar seus filhos, afinal, não se separam pai e mãe, apenas marido e mulher. 
     Anne é a poesia da lagarta em mutação para renascer borboleta.
     Anne é a gota de orvalho que percorre a folha e acaricia a pétala com seu frescor.
     Anne é o arco-íris que pinta nossas vidas numa aquarela.
     Anne é o doce, o amargo, a luz e a escuridão. 
     Anne é paixão.
     Anne descobrirá com o passar dos dias que a época de Helena de Tróia não deve existir nos dias de hoje e que não se prenda a "Menelau" pois há muitos sorrisos e alegrias que a aguardam em dias ensolarados, outros nublados, mas o sol estará ali. Dias de leitura a dois, de cócegas e gargalhadas, de pedalar a dois (na verdade mais que dois, pois Anne tem filhos), de viajar e esquecer de voltar, lambuzar os lábios de sorvete, dormir agarradinha, dançar e pular ao som do melhor Rock n Roll, assistir abraçadinha ao show de sua banda preferida, assar marshmellow numa fogueira no camping, gritar com os pernilongos dentro da barraca, tomar banho de cachoeira, jantar à luz de velas, tomar café na padaria do bairro, comer pastel de feira e macarrão preparado só para ela, ouvir musica bem alto, dançar sem ter motivo e cantarolar sem saber a letra, apenas por estar feliz.
     Anne descobrirá que a vida não acaba ao final de um relacionamento... pelo contrário... quando não há plenitude no que está vivendo, ao final do mais ou menos (inadmissível em todos os aspectos viver algo mais ou menos), caberá a ela, somente ela, descobrir a si própria em sua nova vida e alçar novos vôos, pois Anne nasceu para ser estrela do firmamento e não do mar, para viver de grãos de areia de sentimentos.
     E chegará o dia em que Anne acordará ao lado de um novo amor e em lugar de simplesmente se levantar, cedinho, da cama, voltará a abraçá-lo e adormecer com um sorriso nos lábios, marcas de unhas na pele, lingerie espalhada pelo chão, sobras de vinho na garrafa, paz na alma, brilho nos olhos, felicidade no coração, filhos dormindo no quarto ao lado e uma nova vida pra viver... e que dure enquanto existir amor (acredito que seja por muitas décadas), pois certamente Anne escolherá por companheiro um homem que saiba apreciar e compartilhar cada minuto ao lado dessa joia lapidada e de valor inestimável.
     A vida, Anne... apenas começou.
     Brindemos a ela.

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