sábado, 8 de junho de 2013

Na praia


... a praia estava deserta naquele momento. O sol começava a se recolher, tímido, atrás do horizonte, agora exibindo um dourado intenso, mesclado com raras nuvens que cediam seu branco de algodão para a ígnea coloração. Pari passu seu semblante iluminou-se com as cores daquele ocaso que o deslumbrava incessantemente enquanto se dirigia, a passos lentos, rumo às ondas que quebravam em seus pés. Tocar a areia molhada com seus pés descalços lhe aprazia ainda mais. Sentou-se, do rochedo, à beira. Lançou seu olhar na linha do horizonte, inspirou profundamente, sentiu aquela brisa inflar seus pulmões, afagar seus cabelos com dedos invisíveis que lhe sopravam de todas as direções. A melodia das ondas do mar quebrando à sua volta, soava-lhe como uma sinfonia de notas suaves, acariciando-lhe, também, a alma cansada. Lembrou-se do quanto gostava de sentar-se ao piano em tentativas inglórias de executar com perfeição "Adágio" de Albinone. Sim, era uma de suas músicas favoritas, naquele momento executada pelas ondas do mar. Ele não percebeu, absorto que estava, que ela se aproximou silenciosamente por trás, seguindo seus passos na areia, até descobri-lo ali sentado naquelas rochas úmidas e escurecidas pela incessante maré alta. Ele só a percebeu quando seu perfume a antecipou. Ah! como ele podia reconhecer de longe aquele perfume, de aroma ímpar, quando se misturava àquela pele macia e sedosa. Antes que pudesse virar seu rosto e deslumbrar seus olhos e coração com a sua chegada, ela o abraçou, roubando-lhe um beijo  com aqueles lábios carmim e carnudos, que amavam roçar os seus, que em êxtase, entreabertos, imploravam para que os tocassem com a mesma suavidade com que sempre o contemplaram. Suas mãos, naquele abraço, lhe percorriam o peito e suas unhas sempre pigmentadas de vermelho lhe arranhavam sem ferir-lhe a tez. Ela sentou-se ao seu lado, olhos brilhantes, sorrindo com a alma. Ele a abraçou, girou o corpo para que ficassem frente a frente e perdeu-se em seus olhos. A noite já se aproximava a passos largos e o breu começava seu domínio, perturbado apenas pelas poucas estrelas que já despontavam, lá onde o mar se perdia de vista. Não trocaram uma palavra sequer, pois era desnecessário dizer o que os olhos já gritavam e os corpos escreviam na areia.

Lelo.

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