sábado, 29 de junho de 2013

Seu porto seguro...

Ela hesitou por instantes. Aquele bilhete escrito no guardanapo de tecido, o vinho sobre a mesa, as duas taças diante de si, aquele homem misterioso que a surpreendia inusitadamente subtraíra o chão sob seus pés. Ela lançou, tímida, um sorriso em sua direção, agradecendo. Foi nesse momento que ela observou mais atentamente aquele homem, de aparência madura, cabelos suavemente grisalhos, olhos brilhantes cor de mel, aqueles lábios de aparência macia emoldurados por aquela boca bonita, geometricamente perfeita que contemplava um lindo sorriso. Ele levou a taça de vinho aos lábios e nesse momento ela reparou em suas mãos, de tenaz aparência e ao mesmo tempo longilínea. Por uma fração de segundo, que lhe pareceu uma eternidade, ela memorizou aquela alma misteriosa que como um perfeito gentleman, de maneira ousada se convidava a sentar-se à sua mesa. Subitamente ele levantou-se, acenou a ela para que ouvisse algo, caminhou lentamente na direção oposta à qual ela estava e sentou-se ao piano que havia no recinto para os shows que ali aconteciam em alguns dias da semana. Aos primeiros acordes a música preencheu todo o recinto. Ela reconhecera imediatamente o que ele tocava, pois ela também gostava muito de música clássica. Sim, incrivelmente era uma de suas favoritas: Rachmaninoff - Rhapsody (http://www.youtube.com/watch?v=RgtEUr_n9vM) de acordes melancólicos, melodia soturna mas deliciosa de se ouvir. Ao final de seu breve e particular concerto, dirigiu-se à sua mesa, decidido, de firme caminhar, como quem tem a absoluta certeza de onde vai. Ele é um homem de alta estatura, mas era o suficiente que seu rosto alcançasse a altura de seus ombros. Ele tomou sua mão, beijou-a suavemente, olhou-a nos olhos, cumprimentou-a gentilmente, apresentou-se e ela não teve sombra de dúvida em convidá-lo a sentar-se em sua companhia. Foi assim que destarte começaria ali um romance duradouro. Ela estava solteira, mas fora casada por alguns anos. Recém separada, ainda sentia-se insegura quanto a seus sentimentos, seu futuro, amedrontada pelo fantasma do que vivera em seu último relacionamento. Naquele momento tantas memórias açoitavam-lhe o espírito e as incertezas insistiam em rondar seus pensamentos. Ela veria, entretanto, que seus temores eram infundados. Cada relacionamento é único pois envolvem indivíduos também únicos. Ele deixaria bastante claro, no decorrer dos dias vindouros, que não havia motivo para temor algum, pois ele seria seu porto seguro, seu ombro nos momentos difíceis, sua luz na escuridão, sua paz quando ela deitar e adormecer sobre seu peito. Ela sentiria o olhar que ainda não conhecera, os beijos que não provara, a cumplicidade que não sentira, a fidelidade com que sonhara, o amor imenso e verdadeiro que nunca tivera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é bem-vinda. Todos os comentários serão moderados.